quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Infância

Tínhamos uma vaga ideia de como proceder naquele tempo, uma sensação sempre presente de estar caminhando mesmo quando parávamos, como se o mundo andasse e seguisse sua história independente de nossas atividades. Com os adultos ocorre o contrário. Pensamos em seguir então, não por obrigação ou lazer, mas porque temos de fazê-lo e o engraçado é vermos hoje como as crianças seguem em frente ignorando todos os condicionamentos, tem mesmo que fazer o certo e isso é algo prazeroso de se fazer. Fazer o bem não custa nada e faz bem à gente. Viver é coisa simples.

A criança vivia de forma simples, porque não se preocupava com obrigações e não questionava os fundamentos de nada, nem exigia muito detalhamento. Fazia por ser divertido. E nada de frívolo aqui, não, senhor! Viver nos era precioso porque toda nossa vontade e instinto se recreava nessa atividade, nesse viver descompromissado. Assim éramos. A gente sabia o que queria mas não como chegaria lá, e isso não nos preocupava. Éramos pardais, cuidados pelo Pai do Céu, que nos dava o céu e o alimento. Nossa ousadia era ter objetivo. Será? Ou era termos linguagem própria?

Venho desejando de novo essa alegria, esse amor pelo mundo que não acaba, pelo mundo que está ali. Saber que aquelas árvores estão no mesmo lugar, que o sol se põe e nasce da mesma forma, que as casas e as ruas do meu bairro são as mesmas... saber isso tudo me alivia. Mas eu não sou mais ou mesmo. A saudade não nega o mundo que passou por mim, os mundos que me atropelaram a absorveram, as tragédias e alegrias imensas que me sobrevieram, as pessoas que me transformaram e intensificaram em mim o desejo de viver.

Mas ainda tenho saudade daquele amor, daquele carinho pelas árvores, do quintal de casa, das calçadas quebradas e quentes dos dias quentes de verão, verão que não cessa. E é tudo muito infantil. Até aquelas tranças negras não são tão importantes aqui, são apenas parte desse quadro bonito e sereno, quadro da minha infância.

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