Existem momentos-chaves na nossa vida, eu realmente creio nisso. Momentos de passagem, de travessia, obliteração, destruição. Sejam momentos de criação ou de destruição, ou mesmo de permanência (vale lembrar que a tradição é uma revolução às vezes, exige sacrifício), o fato é que precisamos desses momentos para nos sacudir do torpor, nos indicar um caminho a seguir. O problema é que o destino nos prega peças.
Assim é que você pensa que chegou a um desses momentos-chave e se entrega às mudanças e cataclismas de forma absurda e irrefletida, de um jeito fatalista, e percebe que embarcou em uma canoa furada. É um mal tipicamente geminiano, quer dizer, típico de pessoas impulsivas e indecisas. Acontecem essas decepções frequentemente e, infelizmente, comigo acontecem direto, sempre. É isso que tem me feito sofrer mais que tudo.
Fiquei obcecado com o amor que eu julgava perdido, e isso durou anos, tanto tempo! Foi difícil retomar contato com ela, foi duro e patético. Mas quando me convenci de que não só fui perdoado de forma desonesta, mas também fui esquecido, ignorado... digamos que esse foi um golpe duríssimo. Momento-chave! O amor secaria aos poucos como sentimento, mas felizmente o momento foi certeiro o bastante para que a lembrança dela se tornasse doce e querida, mas distante e nada parecida com ódio ou qualquer tipo de mágoa.
Nossos corações se estabeleceram firmes, pelo menos o meu foi ferido e perdoado. E pelas minhas próprias neuras e obsessões, pelos meus próprios erros e sentimentos ardorosos e idiotas. Ele foi ferido sim, mas ele foi curado. Ele foi curado pela frieza dela, pelo distanciamento, pela nobreza dela. Isso teria me cativado se eu não olhasse essa atitude como modelo, como uma atitude digna de respeito e digna de ser buscada em mim, não copiada, mas buscada. Encontrei minha distância também, minha nobreza, encontrei em mim o sentido de mim mesmo, minha continuidade sem obsessão.
No final, os corações se perdoaram. O coração dela perdoou o meu pela infantilidade, graças ao riso que lhe proporcionou. O meu coração perdoou a frieza winterféllica dela. O coração dela vive se perdoando, por isso, ela é forte. O meu coração também se perdoou, e eu me tornei livre.