quinta-feira, 7 de março de 2013

Confissões de um coração vazio - parte 1


É sempre estranho avançar pelo mar de ideologias que formaram e formam o universo intelectual ocidental, pode-se dizer até mundial. Abstrair os princípios fundamentais de pensamentos e teorias políticas e econômicas tão díspares e aparentemente contraditórias e, enfim, fazer algum tipo de radiografia bem descompromissada dessas ideias é algo desencorajado por um sentimento de impotência, de invisibilidade, até de impalpabilidade que nos acomete.

É difícil explicar isso mas temos que os modos pelos quais se formaram e se afundaram os diversos 'projetos da modernidade' nos mais variados níveis e instâncias, das mais sutis às mais concretas aplicações desses projetos, desses niilismos e modernismos e pós-modernismos, e a impressão imediata que se tem é de esquizofrenia, de febre, excitações absurdas, nem mesmo de sonho porque o sonho é algo real, é algo que tem alguma origem, fonte de coisas reais e que se propõe a algo mesmo quando nasce e se desenvolve de forma a revolucionar certos estados e estruturas da consciência e do real. Não, a única coisa real na modernidade e principalmente na pós-modernidade são seus espasmos de dor, suas contrações de fúria, enfim, os movimentos exteriores de processos lentos e/ou mais ou menos rápidos de instintos, forças, energias que se revolvem sobre si mesmas, se excitam, evoluem e involuem em ciclos e fluxos desconexos e inconstantes. Uma ideia geral, abstrata, do que ocorre com o Ocidente desde o fim da Idade média é a de um homem tendo um ataque epiléptico, e um ataque que dura séculos! Pode-se imaginar uma coisa dessas? Talvez não, mas é essa a sensação daquele espírito que consegue abstrair, se elevar acima das paixões modernas, das tensões ideológicas e vícios intelectuais, para aqueles poucos... mas isso não é novidade para quem já leu algo de Friedrich Nietzsche e é razoavelmente familiarizado com os trabalhos de Julius Evola. Falo de outra coisa...

O que quero dizer é aquela nítida e dolorosa incapacidade de síntese, o horror que essa vastidão de conceitos e massas amorfas de teorias e histórias sangrentas produz sem resultar em nada de inteligível, é a falta de princípios mas muito mais que isso é a presença contínua de influências e energias de fontes diversas e contraditórias, é uma dança asquerosa de poderes que vem, passam e levam consigo qualquer certeza, qualquer ponto ou referência e largam em seu lugar pontos de dúvidas, é essa substituição, é a inversão diária, horária, de qualquer centro, qualquer ideia, até mesmo de qualquer relatividade, a própria realidade sendo vivida como algo de inverossímil e disperso. Não falo de ideias, conceitos, civilizações, falo de sentimento... isso que sinto, essa angústia, esse terror diante disso tudo que nos cerca e cerca sem centro, sem ideia e mesmo percepção de qualquer espécie de que monstro nos ameaça... é isso medo? Profecia? Exaltação infantil? Preconceito?

Eu tenho a sensação que esses gritos de angústia já foram proferidos antes por mim e fico estarrecido ao ver que não importa o quanto tente me elevar, conhecer, aprender, o temor não só não se vai como tende a crescer, tende a aumentar o horror de se ver cercado por esses abismos absurdos e que só se aprofundam e arrastam mais fundo a consciência. Não só nada aprendi como nada realizei em mim, parece que só tive maior certeza da incerteza de toda aproximação desses demônios. Mas talvez isso seja o melhor, talvez esse reencontro consigo mesmo em um momento posterior indique renascimento, deposição da cruz antiga, tomada de novas cruzes, novas vias?